Ganhar uma Libertadores da América pela primeira vez é uma das experiências mais bonitas que um ser humano pode viver – especialmente se o rival teve a indelicadeza de conquistá-la antes. Muitos de nós sabemos o que o torcedor do Botafogo, classificado às semifinais, está sentindo nestes dias de tamanha expectativa: aquela mistura explosiva de empolgação e desespero que deixa a pessoa ora paralisada em posição fetal, ora eufórica feito um filhote de labrador.
Já caiu por terra a antiga sensação de que o Brasil tinha um grupo de clubes iluminados que sabiam ganhar a Libertadores e não contavam o segredo para ninguém. Nas duas últimas décadas, foram quatro campeões inéditos: o Fluminense no ano passado, o Atlético-MG em 2013, o Corinthians em 2012, o Inter em 2006 (com nova conquista em 2010). Libertadores já não se ganha por quem sabe ganhar Libertadores: Libertadores se ganha por quem joga melhor do que os adversários.
Dos 12 clubes mais populares do Brasil, resta o Botafogo para entrar na festa. Ele está com o convite nas mãos, e não é porque seja mais guerreiro do que fulano, porque tenha mais camisa do que beltrano ou porque trabalhe mais do que sicrano. É porque construiu um bom time, o melhor do Brasil nesta temporada.
A diferença de qualidade entre Botafogo e São Paulo, porém, não foi totalmente refletida nos dois jogos das quartas de final. O time tricolor mostrou força, equilibrou a disputa, levou a decisão aos pênaltis e quase ficou com a vaga. É algo que Artur Jorge precisa analisar, porque o mesmo susto, em doses ainda maiores, havia acontecido nas oitavas de final, quando o Palmeiras quase conseguiu uma classificação que não teria deixado pedra sobre pedra pelos lados alvinegros.
Nesta quarta, no Morumbis, o Botafogo dominou o primeiro tempo e saiu na frente. Luis Zubeldía, técnico do São Paulo, foi rápido na reação ao colocar Luciano em campo ainda antes do intervalo, no lugar do garoto William Gomes, eclipsado pelo tamanho da partida. O Tricolor passou a mandar no jogo e pressionou o adversário. Artur Jorge respondeu com a entrada de Tchê Tchê no lugar de Savarino. O Botafogo fortaleceu a marcação e conseguiu sofrer menos, mas exagerou na tentativa de deixar o tempo passar. Acabou punido com o gol de Calleri quase no fim da partida.
A eliminação esteve à espreita do Botafogo. Lucas Moura perdeu um pênalti (na minha opinião, contestável), Calleri desperdiçou um gol feito, as disputas finais de penalidades poderiam ter resultado em outro destino. Mas também não se pode esperar conforto em uma competição tão difícil como a Libertadores. As oitavas e as quartas de final já deram ao Alvinegro certa dimensão épica. Se ele for campeão, serão jogos para a história.
Acho o Botafogo favorito à conquista. Acredito que ele esteja em um patamar superior ao de Atlético-MG e River Plate, já classificados, Peñarol e Flamengo, que decidem a última vaga nesta quinta-feira. É um time que joga com naturalidade, com um treinador que domina as alternativas oferecidas pelo elenco e com talentos em momento mais decisivo – especialmente Luiz Henrique e Thiago Almada.
A vantagem, claro, não é garantia de muita coisa. É preciso lembrar que o River, caso chegue à final, terá o privilégio de decidir o título em Buenos Aires. O Galo vem se mostrando copeiro, conta com um setor ofensivo poderoso e tem boa margem para crescimento. E o Flamengo, com seu elenco estrelado, ganhará tempo para (ao menos tentar) arrumar a casa se conseguir eliminar o Peñarol.
As semifinais serão daqui a um mês. Até lá, o próprio Botafogo terá tempo para melhorar – enquanto seu torcedor vive as delícias e as angústias típicas de quem sonha com uma primeira conquista de Libertadores.
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Fonte: ge.globo
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