Em um intervalo de 15 dias, as vizinhas Ana Clara Carvalho, de 6 anos e Ayla Bendita Monteiro, de apenas 3 anos, morreram com sintomas associados à dengue. Elas moravam na Ocupação Mirante do Uruguai, situada na região no Planalto Uruguai, zona Leste de Teresina.
Em nota, a Fundação Municipal de Saúde (FMS) disse que investiga a causa da morte de uma criança com encefalite viral, internada no Hospital de Urgência de Teresina entre fevereiro e março. Exames preliminares apontaram reatividade para diversos vírus, possivelmente devido a reações cruzadas, sem confirmação de dengue. Testes de RT-PCR realizados no LACEN-PI deram negativo, e amostras foram enviadas ao Instituto Evandro Chagas para análise aprofundada, com previsão de resultado em 60 dias. Quanto a outra criança, a causa da morte foi atestada como gastroenterite e sepse pelo Serviço de Verificação de Óbito de Teresina. Confira a nota na íntegra ao fim da reportagem.
As mortes por dengue ainda não constam como em investigação e/ou confirmadas no painel epidemiológico da Secretaria de Estado da Saúde (Sesapi), que é alimentado pelas secretarias municipais de cada cidade. Em 2025, a morte de uma menina de 12 anos por dengue foi confirmada em Nazaré do Piauí.
De acordo com a mãe de Ana Clara, a autônoma Ana Cristina Carvalho, a filha de apenas 6 anos, passou 48 dias internada depois de dar entrada com vômitos, sonolências e tendo variações por causa das dores de cabeça.
“Ela estava tendo variações, ela falava tudo distorcido. A única pessoa que ela conheceu foi o pai dela, mas quando eu falava ela não falava nada e nem conhecia o irmão dela. Daí então ela tomou soro, remédio para vômito e a médica mandou a gente voltar para casa. Aí no mesmo dia a gente voltou, a doutora assistiu a gente muito bem, aí ela achava que era intoxicação e de imediato encaminhou a gente para HUT”, conta a mãe sobre o início da internação.
A autônoma informou que a tomografia registrou encefalite.
“Aí eles fizeram uma bateria de exames dizendo que era para saber qual foi a causa da encefalite e a causa ela (a médica) disse que foi dengue. Ela sangrou pelo nariz”, destacou a mãe.
Ana Clara morreu no dia 21 de março. Neste domingo (6), foi a vez da pequena Ayla Benedita Sousa Monteiro, criança de apenas três anos, também com sintomas de dengue na Unidade de Pronto-Atendimento (UPA) do bairro Satélite.
Conforme relato de familiares, a menina chegou a dar entrada na UPA após apresentar febre alta e manchas pelo corpo, mas não resistiu.
"Ela veio a óbito ontem por volta de 10h. Foi tudo muito rápido. Ela estava com manchas pelo corpo e febre. Na urgência do Satélite, a médica disse que era suspeita de dengue, passou medicação e fomos pra casa. Depois voltamos no sábado e ela morreu no domingo", disse a tia, que preferiu não ser identificada.
As duas meninas moram na mesma ocupação, com cerca de 100 metros de distância e a mãe de Ana Clara tinha uma lojinha próxima à casa de Ayla. Onde ocorreram as mortes há casas abandonadas, lama e mato que toma de conta do bairro.
Nota de esclarecimento
A Fundação Municipal de Saúde (FMS) esclarece que está investigando a causa da morte de uma criança vitimada por “encefalite viral” e que esteve internada no Hospital de Urgência de Teresina, entre fevereiro e março do corrente ano.
Os exames preliminares realizados no Laboratório Central de Saúde Pública do Piauí (LACEN-PI) mostraram positividade/reatividade para vários vírus distintos, constantes no painel de investigação laboratorial de rotina implementado pelo Serviço de Vigilância em Saúde da FMS, em 2013.
Essa situação configura o que denominamos “reações cruzadas” entre os testes baseados na detecção de anticorpos contra vários vírus, provavelmente por hiperativação do sistema imunológico frente a um adoecimento grave.
Dessa forma, não é possível ainda afirmar que a inflamação do cérebro e, portanto, que a morte da criança tenha sido causada por dengue.
Todos os exames que podem trazer certeza ao diagnóstico de uma infecção (baseados na técnica RT-PCR, em que se detecta o material genético do vírus) realizados no LACEN mostraram-se negativos. Entretanto, amostras de sangue, de urina e do líquido cefalorraquidiano da criança foram encaminhadas ao Instituto Evandro Chagas – laboratório de referência do Ministério da Saúde para diagnóstico de infecções por arbovírus.
No referido instituto, exames mais aprofundados poderão esclarecer qual a real causa da morte da criança. O prazo estimado para liberação desses exames é de 60 dias.
Já quanto ao óbito de uma outra criança, em tese, vizinha da que sofreu encefalite, ressalta-se que o caso foi analisado pelo Serviço de Verificação de Óbito de Teresina, concluindo-se, no atestado de óbito emitido pelo médico patologista por gastroenterite e sepse (infecção generalizada) como causas da morte.
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Fonte: Caroline Oliveira e Graciane Araújo
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