A todas as declarações negativas de Carlo Ancelotti, 64, Ednaldo Rodrigues reagia com indiferença. Nos contatos com o italiano, já havia recebido sinalizações de que ele aceitaria ser o primeiro estrangeiro a dirigir, em definitivo a seleção brasileira.
A CBF tem um acordo verbal com o técnico quatro vezes campeão da Champions League para que ele assuma a seleção em junho de 2024, quando termina seu contrato com o Real Madrid (Espanha). A notícia foi dada inicialmente pelo GloboEsporte.com.
Dirigentes ligados a Ednaldo dizem que ele mesmo reconhece não ser o cenário ideal. Mas ter Ancelotti em 2024 seria melhor, na visão dele, do que escolher um brasileiro que não seria unanimidade.
Desde o momento em que ficou clara a impossibilidade de tirar Guardiola do Manchester City, Rodrigues fincou Ancelotti como objetivo. Isso aconteceu no início deste ano.
Apesar das várias tentativas de fazer com que ele deixasse a equipe espanhola agora, o italiano se negou a fazê-lo. O Real Madrid também disse que não o liberaria.
O presidente manteve as conversas bem ao seu estilo: de maneira discreta. Para a CBF, os nomes de Abel Ferreira e Jorge Jesus eram mais tentativas de empresários de plantar nomes na seleção do que interesse real de Rodrigues que, desde o início, havia decidido: seria uma escolha pessoal. Sem ouvir ninguém.
Para os assessores que protestaram e disseram que ele poderia ouvir outras pessoas sobre o assunto, respondeu que escolheria sozinho. Se outros presidentes haviam feito o mesmo no passado, por que não ele?
Rodrigues esperou pacientemente por esse momento e manteve Tite no cargo até o final da Copa do Qatar, um treinador pelo qual não morria de amores. Mas pediu que ninguém da CBF interferisse no trabalho da comissão técnica. Qualquer pedido do então comandante deveria ser atendido para que depois, em caso de derrota, o cartola não fosse visto como vilão.
Rodrigues queria um nome para técnico que marcasse sua administração e que fosse capaz de gerenciar o caldeirão de egos que pode ser a seleção. Ancelotti já ter trabalhado com dezenas de jogadores do país e ter sido campeão com eles o torna candidato ideal, imagina o presidente. Ele também teria fama, currículo e autoridade para se impor diante dos atletas.
Rodrigues não deu grande importância nem ao fato de que o novo treinador assumiria o cargo depois de seis das 18 rodadas disputadas das eliminatórias para a Copa do Mundo de 2026. Ele não vê como grande problema porque não considera a classificação difícil. Das dez seleções, seis vão para o Mundial. A sétima disputará repescagem.
A questão em aberto é qual será o papel de Ancelotti até assumir o cargo em definitivo. A equipe principal deverá ser comanda por Ramon Menezes, que tem exercido o cargo de forma interina desde o início de 2023. É possível que ele tenha outro profissional ao seu lado. Não está claro se o italiano terá algum papel nesse comando, mesmo que a distância e de forma informal. A seleção brasileira já teve, no passado, três técnicos estrangeiros. Mas todos foram chamados para um curto período.
O uruguaio Ramón Platero foi responsável por convocar e dirigir a equipe no Sul-Americano de 1925. O português Jorges Gomes de Lima, o Joreca, comandou o time em dois amistosos contra o Uruguai, em 1944. O argentino naturalizado brasileiro Filpo Nuñez era técnico do Palmeiras que representou o Brasil, em 1965, em amistoso diante do Uruguai. A partida fazia parte da festa de inauguração do Mineirão.
Meia revelado pela Roma, Ancelotti fez história como integrante do Milan que tinha o trio de holandeses: Ruud Gullit, Marco van Basten e Frank Rijkaard. Venceu duas vezes a liga italiana 1988 e 1992 e a Champions League de 1989 e 1990. Já havia sido campeão nacional com a Roma em 1983.
Como técnico, é campeão italiano (Milan), inglês (Chelsea), espanhol (Real Madrid), alemão (Bayern de Munique) e francês (PSG). Também ganhou o principal torneio europeu pelo Milan (2003 e 2007) e pelo Real Madrid (2014 e 2022).
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Fonte: FolhaPress /ALEX SABINO
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