"Me sinto uma outra pessoa, mais agradecida e muito feliz por estar viva". A declaração é de*Renata, 18 anos, que deixou para trás as roupas coloridas e por três anos irá usar branco. A promessa religiosa para Nossa Senhora foi feita por um familiar que, assim como uma grande legião de amigos e parentes, pediu pela saúde e recuperação da jovem. Renata é uma das vítimas do estupro coletivo em Castelo do Piauí, crime que completa um ano nesta sexta-feira (27).
O G1 entrevistou a garota e o nome marcado por asterisco foi usado para preservar a sua identidade. Sobre a triste tarde do dia 27 de maio do ano passado, Renata diz lembrar-se da presença de apenas um, dos cinco apontados pela polícia por participação na série de agressões contra ela e mais três amigas. Uma quarta garota não resistiu e morreu 10 dias após a barbárie.
“Eu tenho certeza absoluta. Pelo menos, o que eu acho, porque as pessoas falam ‘não pode’, mas que eu lembro, só tinha um”, relatou.
Quatro adolescentes foram condenados a cumprir medida socioeducativa. Um deles, tido como o delator do estupro, foi agredido até a morte pelos demais. Adão José Silva Sousa, 42 anos, investigado como sendo o mentor da barbárie, está preso, mas um ao depois ainda não foi julgado.
Longe dos pais, é na casa de uma tia que Renata tenta retomar a vida após ficar 36 dias internada no Hospital de Urgência de Teresina. Entre as três sobreviventes da série de atrocidades no Morro do Garrote, Renata foi a que ficou em estado mais grave. Ela teve traumatismo craniano e chegou a ser submetida à cirurgia plástica para reconstrução das orelhas.
Por conta do trauma no crânio, Renata teve que passar por procedimento cirúrgico para retirar mais de 20 fragmentos de ossos. Hoje, desde que deixou o hospital, ela faz uso do medicamento oxicarbazepina 300g, usado em tratamentos para prevenir crises convulsivas simples ou complexas.
Antes, a medicação era custeada com o dinheiro da campanha feita por enfermeiras que se sensibilizaram com o caso das quatro amigas. Hoje, a medicação é comprada pela família e são gastos algo em torno de R$ 120 por mês com o remédio.
'Só lembro de uma pessoa' diz vítima de estupro coletivo em Castelo do PI
A jovem de 18 anos não vive mais na cidade natal e tenta retomar a rotina.
Garota teve traumatismo craniano e chegou a passar 36 dias internada.
*Renata está estudando e pretende tentar uma vaga para medicina veterinária (Foto: Fernando Brito/G1)*Renata está estudando e pretende tentar uma vaga para medicina veterinária (Foto: Fernando Brito/G1)
"Me sinto uma outra pessoa, mais agradecida e muito feliz por estar viva". A declaração é de*Renata, 18 anos, que deixou para trás as roupas coloridas e por três anos irá usar branco. A promessa religiosa para Nossa Senhora foi feita por um familiar que, assim como uma grande legião de amigos e parentes, pediu pela saúde e recuperação da jovem. Renata é uma das vítimas do estupro coletivo em Castelo do Piauí, crime que completa um ano nesta sexta-feira (27).
O G1 entrevistou a garota e o nome marcado por asterisco foi usado para preservar a sua identidade. Sobre a triste tarde do dia 27 de maio do ano passado, Renata diz lembrar-se da presença de apenas um, dos cinco apontados pela polícia por participação na série de agressões contra ela e mais três amigas. Uma quarta garota não resistiu e morreu 10 dias após a barbárie.
“Eu tenho certeza absoluta. Pelo menos, o que eu acho, porque as pessoas falam ‘não pode’, mas que eu lembro, só tinha um”, relatou.
Quatro adolescentes foram condenados a cumprir medida socioeducativa. Um deles, tido como o delator do estupro, foi agredido até a morte pelos demais. Adão José Silva Sousa, 42 anos, investigado como sendo o mentor da barbárie, está preso, mas um ao depois ainda não foi julgado.
Longe dos pais, é na casa de uma tia que Renata tenta retomar a vida após ficar 36 dias internada no Hospital de Urgência de Teresina. Entre as três sobreviventes da série de atrocidades no Morro do Garrote, Renata foi a que ficou em estado mais grave. Ela teve traumatismo craniano e chegou a ser submetida à cirurgia plástica para reconstrução das orelhas.
Por conta do trauma no crânio, Renata teve que passar por procedimento cirúrgico para retirar mais de 20 fragmentos de ossos. Hoje, desde que deixou o hospital, ela faz uso do medicamento oxicarbazepina 300g, usado em tratamentos para prevenir crises convulsivas simples ou complexas.
Antes, a medicação era custeada com o dinheiro da campanha feita por enfermeiras que se sensibilizaram com o caso das quatro amigas. Hoje, a medicação é comprada pela família e são gastos algo em torno de R$ 120 por mês com o remédio.
'Sou muito agradecida e feliz por estar viva', diz vítima de violência (Foto: Fernando Brito/G1)'Sou muito agradecida e feliz por estar viva', diz vítima de violência (Foto: Fernando Brito/G1)
Por conta do tempo em que ficou internada e do tratamento neurológico, Renata passou a receber o Benefício de Prestação Continuada da Assistência Social (BPC) no valor de um salário mínimo. O benefício é concedido às pessoas com deficiência que comprovam não ter meios de se sustentar.
Conforme a tia, na próxima perícia a garota deve deixar de receber o auxílio porque está bem de saúde e não apresentou sequelas mais graves. O dinheiro vem sendo usado nas despesas com transporte e alimentação.
Ainda de acordo com a tia de Renata, na época em que o fato aconteceu, um grupo de deputados chegou a visitar a garota e prometer a construção de um quarto para ela na casa dos familiares em Teresina. “Pediram pra eu ver o valor e fui em três lojas diferentes pegar orçamento, mas até hoje nada”, falou a tia.
O G1 procurou a Assembleia Legislativa do Piauí (Alepi). A instituição informou que uma comissão de deputados visitou, voluntariamente e em solidariedade, as vítimas. A Alepi disse ainda que essa manifestação foi individual e nada tem a ver com a instituição. "Na oportunidade, foi colocado para as famílias que a Casa estaria disposta a intermediar qualquer necessidade ou assistência que fosse apontada com os órgãos competentes", diz a nota enviada.
A Secretária de Estado da Assistência Social (Sasc) diz que fez a articulação entre órgãos do poder público estadual e municipal para possibilitar o acesso, principalmente, às politicas públicas de saúde, educação, assistência social e habitação.
A Vice-Governadoria disse que desde o ocorrido vem prestando assistência às vítimas com apoio de uma equipe multiprofissional. De acordo com a chefe do gabinete militar da vice-governadoria, major Cristina Alves, até hoje o órgão auxilia na prestação de atendimento psicológico e deslocamento para as consultas.
Renata continua sendo acompanhada por uma psicóloga e assistente social do governo. Tirando os lapsos de memória que a garota tem vez ou outra, ela não manifestou nenhum problema mais grave de saúde. “Tive dificuldade no início das aulas porque não consegui lembrar mais de algumas matérias, mas a psicóloga disse que isso é normal. Algumas matérias como matemática, física são mais difíceis e faço um esforço maior”, conta Renata.
A jovem diz Renata diz que está focada nos estudos e irá fazer o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) para tentar uma vaga no curso de medicina veterinária. As carreiras de nutricionista e assistente social também estão nos planos, caso ela não tenha êxito a sua primeira opção.
A vida na capital e planos para o futuro
Distante 190 km dos pais e amigos de infância, Renata viu toda sua rotina ser modificada. Se antes, em Castelo ela ia para a escola a pé, em Teresina ela teve que aprender a pegar ônibus e se acostumar com o corre-corre e trânsito agitado da capital.
Ainda no ano passado, quando deixou o hospital, a psicóloga sugeriu que ela voltasse às aulas e, mesmo com certo receio, Renata concordou e retomou os estudos em Teresina. “Tive muito medo de não me adaptar só que depois que voltei, vi, já agora em janeiro, que foi muito bom conhecer pessoas novas e me dá uma vontade de lutar cada vez mais pelo o que eu quero: me formar”, disse.
Renata também pensa em formar família e diz ter encontrado uma pessoa que tem lhe apoiado e lhe dado carinho. “Eu tenho essa pessoa hoje comigo, me dando força para estudar. Primeiro estudar, não que o namoro impeça. Estou construindo sonhos e as coisas vão acontecendo aos poucos”, falou.
Sobre voltar a morar em Castelo do Piauí, Renata conta que essa possibilidade não está em seus planos e quer, logo que possível, ter o seu próprio cantinho. As visitas à Castelo acontecem em alguns fins de semana ou feriado e ela segue direto para a casa dos pais na zona rural.
“Não gosto mais de ir lá, é estranho. Quando vou, passo direto pro interior, pra casa dos meus pais".
As outras duas garotas que sobreviveram ao crime também moram em Teresina e estão estudando para concluir o ensino médio e prestar o Enem.
Acusados pelo crime
O Ministério Público Estadual e a polícia apontaram Adão José da Silva Sousa e outros quatro adolescentes como autores da série de atrocidades. O G1 ouviu os jovens com exclusividade. Confira aqui a reportagem.
Foram imputados individualmente a cada um dos jovens os atos infracionais equivalentes aos seguintes crimes: prática de quatro estupros, três tentativas de homicídio e dois homicídios (a morte de Daniely, uma das vítimas do estupro, e de Gleison). O prazo para cumprimento da medida é de três anos, podendo ser estendido, já que os menores serão avaliados a cada seis meses. O processo contra Adão ainda não foi julgado.
Esforços para esquecer
Desde que o crime ocorreu em Castelo do Piauí, escolas e demais instituições têm realizado diversas ações voltadas ao fortalecimento de proteção às crianças e adolescentes.
As atividades são promovidas pela Prefeitura Municipal de Castelo do Piauí através da Secretaria Municipal de Assistência Social (Smas), e contam a participação de diversos setores da administração municipal e sociedade civil organizada, como a Associação da Juventude de Castelo do Piauí (Ajuca), Conselho Tutelar, Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente.
Durante toda a semana, uma vasta programação foi realizada em alusão ao Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração de Crianças e Adolescentes, na quarta-feira (18).
“Todos os nossos esforços têm sido no sentido de alertar e sensibilizar a sociedade. Estamos tentando desmistificar essa imagem negativa da cidade. O mais importante é conscientizar essas crianças e esses adolescentes dos seus direitos e garantias e mostrar quem eles devem procurar”, falou a psicóloga Enilda Alves.É a primeira vez que os meninos falam com a imprensa desde o fato. O acesso aos menores, recolhidos no Centro Educacional Masculino (CEM), em Teresina, foi autorizado pelo juiz Antônio Lopes, da 2ª Vara da Infância e da Juventude.
P U B L I C I D A D E
G1 PI
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