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Anseio por elogios e curtidas leva pessoas a exagerarem nas redes sociais

Na internet, o termo “biscoteiro” está associado àquelas pessoas que exageram em quantidade de postagens, em tom apelativo.

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Registrar um momento, postar e receber curtidas. Hoje, com as redes sociais, este processo é totalmente natural, afinal, o objetivo é compartilhar um pouco de si com os outros. Na internet, o termo “biscoteiro” está associado àquelas pessoas que exageram em quantidade de postagens, em tom apelativo, com o objetivo de receber elogios e curtidas.

Embora os termos “biscoiteiros” ou “pedir biscoito” sejam comuns no ambiente virtual atualmente, eles não são expressões tão recentes. Yako Guerra, especialista em comunicação digital, explica que as expressões são uma alusão a “feminist cookies”, termo oriundo dos movimentos feministas que ocorreram nos Estados Unidos. “As feministas perguntavam se os homens queriam um biscoito quando eles falavam algo para se considerar ‘feminista’ ou como se estivesse fazendo alguma coisa muito grande. No próprio movimento, algumas feministas pediram que o termo não fosse utilizado”, explica.

Embora sejam usadas em contextos distintos e em momentos históricos diferentes, as expressões, em suma, tratam da mesma ideia: o ato de recompensa por algum feito. É como se, na internet, as pessoas fossem movidas pela espera de um reconhecimento. “Hoje em dia, ‘pedir biscoito’ se refere a fazer publicações nas redes sociais com o objetivo de receber comentários, curtidas e elogios. São postagens feitas com o objetivo inconsciente de aumentar a autoestima, de se sentir querido e de se sentir elogiável”, pontua Yako.

Para o especialista, o ser humano compartilha da necessidade de reconhecimento em um determinado cenário, contexto ou rede social, seja ela online ou off-line. Na internet, os perfis de cada um acabam se configurando como uma forma de vitrine, pois há a possibilidade de produzir conteúdo sobre si mesmo e, logo, vem a necessidade de ser sentir acolhido por quem acompanha aquele conteúdo. Assim, segundo Yako, as pessoas esperam por uma aprovação dos demais.

“Como o ser humano, em seus diversos aspectos, não consegue atender essas necessidades no seio familiar, no meio dos amigos, ele adota estratégias para que essas necessidades sejam atendidas, algumas estratégias inconscientes. Ele entra na rede social e vai ver ali as pessoas compartilhando coisas a respeito delas e aí também vai querer colocar coisas boas para serem vistas e aí entra a necessidade do reconhecimento. Infelizmente, essa prática vem sendo usada como um termômetro principal do meu nível de ‘curtibilidade’. Então, o meu nível de amabilidade acaba que é medido por conta dos números de curtidas e elogios”, pondera.

NECESSIDADE DE APROVAÇÃO SOCIAL

Segundo a psicóloga Marina Barros, essas questões de necessidade de aceitação e pertencimento a um grupo é natural do ser humano. “A necessidade de pertencimento é natural, instintiva, nada mais natural do que construir nossa identidade com esse contexto que nos cerca. Antes da internet, esse contexto era limitado à nossa família, nossa escola, os amigos do bairro. Então era mais fácil ter essa modelagem a partir desses grupos que nos rodeava. Aí veio a internet e com ela outros padrões, outras pessoas, outras culturas, e a gente fica procurando se adaptar”, avalia.

Marina cita uma pesquisa feita recentemente, que aponta que 25% das pessoas que usam as redes sociais admitiram que burlam a realidade, que fantasiam na internet, e colocam algo que não é real. Para a psicóloga, o conflito de ansiedade surge daí, a partir do momento que o indivíduo idealiza sua vida com base em algo que não é real e do processo de busca pela aprovação de outros. A pessoa, assim, condiciona sua existência e o seu pertencimento a um grupo pela opinião de outras pessoas.

No mês dedicado à conscientização e à prevenção em relação à saúde mental, o Janeiro Branco, dados de uma pesquisa da University College London (UCL), em Londres, mostra um cenário alarmante. Segundo o estudo, meninas adolescentes são duas vezes mais propensas que os meninos a apresentar sintomas de depressão em conexão ao uso das redes sociais.

“Hoje o transtorno da ansiedade já está relacionado ao uso e à necessidade de aprovação nas redes sociais. Você pode desenvolver isso e desenvolver um transtorno relacionada à autoestima, onde você não consegue se ver como você é na realidade, não se ver como é de verdade, está se comparando. Isso pode levar ao desenvolvimento de depressão, por você considerar que não pertence a um grupo ou que não merece estar onde você não estar”, alerta a psicóloga.

O uso das redes sociais não é nocivo, o excesso é quando você se condiciona a isso. A saída, vista por Marina Barros, é o autoconhecimento. “Para que a gente possa sair desse ciclo vicioso, é importante que a gente tenha consciência de quem nós somos e da nossa importância no mundo, no meio que a gente vive, no nosso contexto. É preciso estar alerta aos modelos que a gente se baseia e buscar sempre se basear em modelos que se relacionam com os contextos que a gente vive. A pessoa precisa se conhecer para se aceitar independente da validação do outro”, finaliza Marina.

P U B L I C I D A D E

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