Erinalda, Emanuelle, Fabiana, Nazaré, Maressa, Aretha, Gisleide, Aline, Joana D’Arc, Selene, Gabryella, Irismar, Frascinilda. Essas são apenas algumas das mulheres que perderam a vida durante o ano de 2018 no Piauí, após serem brutalmente assassinadas pelos companheiros e ex-companheiros. As vítimas entraram para as estatísticas da Secretaria de Segurança Pública do Piauí (SSP/PI), sobre o número de mulheres vítimas de feminicídio no estado.
Mulheres vítimas de feminicídio no Piauí. (Foto: Arquivo Pessoal)
De acordo com os dados da SSP/PI, foram registradas 55 mortes de mulheres durante o ano passado, destas 25 foram assassinadas pela condição de ser mulher, representando quase metade das mortes de mulheres (45,45%). No geral, os feminicídios ocorrem em situações de violência doméstica e familiar, ou quando há menosprezo e discriminação à condição de mulher. Desde a criação da Lei do Feminicídio, em 9 de março de 2015, 108 mulheres foram assassinadas em um contexto de violência de gênero no estado.
Segundo a diretora de gestão interna da Secretaria de Segurança do Piauí (SSP-PI), a delegada Eugênia Villa, os casos de feminicídio seguem um padrão de violência, ocorrendo geralmente em ambiente familiar e aos domingos, momento de reunião da família. “A gente precisa rever esse conceito de família que é inatingível. Essa categoria família é um silêncio murado que faz com que as pessoas, na ideia de preservação da família, não se sintam à vontade para denunciar violências sofridas por aquela mulher”, alerta.
A delegada afirma que é preciso uma conscientização da sociedade para que o silêncio seja rompido e os casos de violência cheguem à polícia antes que a mulher seja vítima de feminicídio. Para isso, é preciso repensar o conceito de família que, segundo ela, muitas vezes oprime a mulher. “Que família é essa que o pai ou marido estupra a filha? Que o pai ou marido mata a esposa? Que família é essa? Será que é essa família que temos que proteger? Claro que não é. Nenhuma religião, nenhuma pauta vai dizer que isso é família”, destaca.
Por isso, para ela, muitas vezes a mulher vítima de violência acaba se sentindo culpada pela violência que sofre e permaneça em situação de vulnerabilidade, sem comunicar às autoridades competentes. “A mulher, sofrendo a violência, vai achar como se tivesse falido no gerenciamento desse capital família, e a sociedade por achar que não deve meter a colher”, enfatiza.
Outro ponto destacado pela delegada diz respeito ao modo pelo qual o feminicida é tratado pelo sistema penitenciário e judiciário. Segundo ela, ao contrário do homicida contumaz, o feminicida vai apresentar um comportamento diferenciado, representando um risco para a sociedade. “O feminicida só vai matar aquela mulher, a perspectiva dele é de matar aquela mulher, provavelmente ele não vá mais matar ninguém, vai ter um excelente comportamento carcerário, não vai oferecer risco de rebelião e, por isso, nós vamos trabalhar essas categorias na segurança pública para conter eventuais danos para a sociedade”, diz.
Para fazer a denúncia, qualquer mulher vítima de agressão ou familiar pode comparecer às delegacias especializadas em atendimento à mulher na capital ou nas delegacias de polícia dos municípios do interior, ou ainda através do aplicativo Salve Maria, especializado para evitar violências de gênero, disponível para download nos sistemas Android e IOS.
Por: Nathalia Amaral, com informações de Geici Mello.
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