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Piauí conta com 112 áreas de conflito socioambiental

Conflitos por terras no Piauí põem em risco centenas de famílias; Comissão Pastoral da Terra no Piauí cita que grandes empresários já chegaram a envenenar águas e terras para expulsar famílias de áreas.

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O estado do Piauí ocupa 2,3% de área no território brasileiro. E é nesta parcela de terra que, diariamente, milhares de famílias colocam em risco suas vidas pela luta de assegurar um direito: o da moradia.

Altaniran Ribeiro diz que no Norte do Piauí os conflitos são mais comuns (Foto: Elias Fontinele/O Dia)

Segundo mapeamento do projeto jornalístico Latentes, idealizado pela agência de jornalismo Livre.jor, realizado com o apoio do Fundo Brasil de Direitos Humanos, o Piauí conta com 112 locais de conflito socioambiental latentes, sendo 108 em locais onde estão estabelecidos assentamentos, três em unidades de conservação e um em uma comunidade quilombola.

A Comissão Pastoral da Terra no Piauí (CPT-PI), há anos, acompanha os conflitos agrários nas diferentes regiões do Estado. A instituição dá apoio aos grupos de moradores que necessitam de terra, denunciando as agressões sofridas e os assessorando junto aos órgãos públicos e o Judiciário, especialmente na demanda pela terra.

“O que é mais comum é a existência de famílias posseiras que estavam na terra há muitos e muitos anos e, depois, uma pessoa cerca a área e diz que é dono da terra. No Norte do Estado, isso é muito mais comum. Os antigos coronéis tinham grandes faixas de terra e essas grandes faixas de terra laçavam muita gente. As famílias que estavam ali há muito tempo começaram a reivindicar e daí vêm os conflitos. Apenas com os assentamentos, os conflitos começaram acessar”, explica Altamiran Ribeiro, coordenação colegiada do CPT-PI.

De acordo com o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), no Piauí, existem 499 assentamentos estabelecidos. Os conflitos acontecem nas porções de terra em que muitas pessoas reivindicam o direito à mesma área. 

“Na região de Santa Filomena, Bom Jesus, Gilbués e Baixa Grande do Ribeiro, acompanhamos muitos conflitos. Há uma localidade em que querem expulsar famílias para dar espaço para o agronegócio. Recentemente, catalogamos 27 comunidades no raio do Rio Uruçuí Preto e a Foz do Riozinho que estão em conflitos”, destaca Altamiran.

Os conflitos destacados pelo coordenador envolvem até risco de vida. Segundo ele, grandes empresários já chegaram a envenenar águas e terras para expulsar famílias moradoras do local. Um exemplo de enfrentamento que culminou em episódios de violência é o dos moradores do Assentamento Rio Preto, localizado no município de Bom Jesus-PI, a 1.078 quilômetros da capital Teresina, que foram vítimas da violência por disputa de terras retratado no documentário “17 sonhos e uma cerca”, disponível no Youtube.

“Estamos nessa luta junto com as famílias e o Interpi para que seja regulamentada a terra dos posseiros há dezenas de anos. Hoje, temos no mínimo duas mil famílias vivendo nessas áreas de insegurança. Na região Norte, o conflito grande é na questão do babaçu. Já na área de cerrado é pelo agronegócio. No Assentamento Rio Preto, o cara grilou as famílias que estão lá, cercou todo mundo e houve muita violência”, destaca Gregório Borges, também da coordenação colegiada do CPT-PI.

CONFLITOS PODEM AUMENTAR
De acordo com o levantamento feito pelo projeto Latentes, em todo o Brasil, estão classificados como locais de possível conflito socioambiental 245 áreas indígenas (40% do total), 183 comunidades remanescentes de quilombolas (46%), 1.079 unidades de conservação (61%) e 3.029 assentamentos (43%).

No Piauí, na visão de Altamiran, a tendência é que a situação se agrave. “A tendência é os conflitos aumentarem, eu não vejo nem na mineração, no semiárido, nem no cerrado e, agora, na soja, que já está chegando no Norte, nenhum horizonte de diminuição dos problemas, mas só piora”, finaliza.

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