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"O tráfico hoje funciona como uma empresa especializada" diz coordenadora da DEPRE

Em entrevista a O Dia, a delegada Alexandra Santos destacou que há quadrilhas no Piauí atuando com um sistema financeiro forte que permite a continuidade do crime mesmo após prisões de líderes.

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 A delegada Alexandra Santos é coordenadora da DEPRE e dá detalhes do combate ao tráfico no Piauí - Foto: Reprodução/O Dia TV

Uma modalidade de crime que está diretamente associada às facções criminosas, o tráfico de drogas aqui no Piauí vem refletindo o poder de organização que estes grupos possuem. Em entrevista à reportagem do Sistema O Dia, a coordenadora da Delegacia de Prevenção e Repressão a Entorpecentes (DEPRE), delegada Alexandra Santos, fala que, hoje, o tráfico de drogas no Piauí conta com uma hierarquia bem definida de funções por parte de quem o pratica.

Essa hierarquia, ela comenta, é resultado de uma especialização cada vez que estes grupos criminosos possuem para atuar não só na comercialização de entorpecentes, mas também em outros tipos de crimes como a lavagem de dinheiro, por exemplo. Tratam-se de quadrilhas que possuem subdivisões operacionais e financeiras, o que tem demandado das forças de segurança mais tempo nas investigações para culminar em prisões.

"O tráfico hoje funciona como uma empresa especializada. Nesses crimes mais complexos em que há um grupo criminoso maior, as atribuições são divididas: há o que põe a mão na droga, o que transporta a droga, o que trata com fornecedores e o que opera o financeiro. Quando o grupo é grande e bem organizado, a gente observa essas características. O financeiro dessas quadrilhas atua como uma espécie de empresa", pontua Alexandra Santos.

Uma modalidade criminosa que está bastante associada ao tráfico é a lavagem de dinheiro. A coordenadora da DEPRE explica que esta é uma prática comumente por traficantes para mascarar o patrimônio conseguido com a venda de drogas e dar a ele um falso aspecto de legalidade junto a instituições financeiras e de fiscalização. Daí a necessidade de se firmar parcerias com órgãos de controle numa ação integrada de resposta a este tipo de delito.

"Observamos no tráfico essa nova tônica da evolução para a lavagem de dinheiro para quebrar o patrimônio daqueles indivíduos que foram grupos criminosos maiores. Estamos com essa atuação forte e não somente no tráfico. É importante que a gente evolua dando mais ênfase na investigação patrimonial, porque uma vez que conseguimos dar um baque no patrimônio daquele traficante, mais difícil fica para ele. No momento em que bloqueamos os ativos dele, sequestramos imóveis e veículos, a gente começa a dificultar os meios de que uma pessoa próxima a ele tenha recursos necessários para dar continuidade ao tráfico caso ele seja preso", explica Alexandra.

A delegada acrescenta ainda que é comum que o crime de tráfico seja praticado em sei familiar e que passe de geração em geração com os filhos assumindo o lugar do pai ou a esposa assumindo o lugar do marido no comando do ponto de venda de entorpecentes quando ele vai preso. "Lembro de um caso quando eu era delegada no interior em que prendi um casal por tráfico e eles tinham um filho pré-adolescente na época. Outro dia, prendemos esse rapaz já crescido e praticando o mesmo crime dos pais", destaca a titular da DEPRE. Ela reforça a necessidade de políticas sociais associadas ao policiamento para dar uma resposta mais eficaz ao tráfico de drogas no Estado.

Apreensões feitas pela DEPRE no Piauí - Foto: Divulgação/Polícia Civil

Tráfico de drogas sintéticas aumenta no Norte do Piauí

O aprimoramento com que as quadrilhas especializadas atuam no Piauí se reflete também no tipo de entorpecente que elas comercializam. Nos últimos anos se tornou comum o termo "supermaconha" no linguajar de quem atua no combate a este tipo de crime. Trata-se de uma versão mais beneficiada da maconha completamente produzida em laboratório. As chamadas drogas sintéticas têm sido um eixo de atuação do tráfico que vem chamando a atenção das autoridades policiais no Estado. São entorpecentes cuja produção se dá de forma "mais discreta" dentro de casa, e que pode ser mais facilmente encontrados em municípios do Norte piauiense.

Quem explica por que isso acontece é a delegada Alexandra Santos. "A gente vê as drogas sintéticas na região Norte, onde apreendemos mais de uma vez indivíduos que plantam indoor, ou seja, em laboratório. Em via de regra, quem tem o plantio mais fechado é a supermaconha, que tem valor mais elevado e qualidade maior em relação à maconha comum. Como o solo é mais salino nos municípios ao Norte e próximos ao litoral, daí a preferência pelo plantio indoor. Mas quando observamos o Sul do Estado, temos as plantações a céu aberto, as fazendas de droga. Lá o clima é mais favorável, o solo é bom e isso facilita o processo. É importante frisar que estamos cientes disso e atuando de forma especializada de acordo com o que cada situação requer", explica a coordenadora da DEPRE.

Ela acrescenta ainda que o Piauí não pode ser considerado um produtor e distribuidor de drogas como outros estados nordestinos como Pernambuco, por exemplo. Mas destaca que há indícios de grupos criminosos com a intenção de migrar destes outros locais para o território piauiense atraídos por sua extensão e fronteiras.

A principal forma de combate, ela afirma, ainda é a denúncia. Alexandra Santos pede que as pessoas continuem denunciando o crime de tráfico de drogas através dos telefones da DEPRE e frisa que a identidade de quem denuncia é mantida totalmente em sigilo. Ela ressalta que é através dessas denúncias que a polícia consegue chegar no que é muitas vezes a ponta de um esquema muito maior. "Cada vez que eliminamos um ponto de entorpecentes, mesmo sendo pequeno, estamos dando uma resposta para a população", finaliza a delegada.

Veja aqui os canais de denúncia da DEPRE:

(86) 3216-5281 – PLANTÃO

(86) 3216-5281 – WHATSAPP – DENÚNCIAS

http://www.pc.pi.gov.br/denuncia_anonima.php

PortalOdia/Com informações da O Dia TV

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