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Violência obstétrica ainda é presente nas maternidades do Piauí

Um em cada quatro gestantes sofre algum tipo de violência no trabalho de parto.

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“Foi horrível e doloroso. Não desejo a ninguém”. O relato é de Karla Brígida, uma das vítimas de uma prática ainda institucionalizada no sistema de saúde brasileiro: a violência obstétrica. Pesquisas apontam que uma em cada quatro gestantes sofre algum tipo de violência no momento do trabalho de parto, exatamente como no caso de Karla.

Há cinco anos, o nascimento do primeiro filho tinha tudo para ser a realização de um sonho, mas acabou se tornando um trauma na vida de Karla. A vontade de ter o parto de forma normal não foi respeitada e nem mesmo o direito a um acompanhante. O tratamento recebido pelos profissionais de saúde, durante o trabalho de parto, até hoje deixam marcas e mágoas.

“Não recebi nenhuma palavra de apoio, apenas palavras agressivas. O que mais me marcou foi uma enfermeira dizer, enquanto eu e outras mães estávamos gritando em trabalho de parto: ‘Na hora de fazer, não doeu’. Foi horrível”, lembra.

A violência obstétrica deixou marcas na vida de Karla e, até mesmo, no casamento. “Senti muitas dores, isso foi ruim para minha vida sexual”, comenta. O trauma também interferiu no desejo de ser mãe pela segunda vez. Com medo de passar pela mesma situação, ela cogitou não engravidar mais. “Quando engravidei de novo, fiquei com receio de passar pelas mesmas coisas”, conta.

A experiência vivenciada por Karla Brígida reflete uma realidade presente nas maternidades públicas e privadas do Piauí. De acordo com dados apresentados no último fórum da Rede Cegonha, a mortalidade de gestantes no momento do parto cresceu 15%, de 2014 para 2015.

Para a subcoordenadora da Rede Cegonha no Piauí, Íris Amaral, os dados expõem a violência obstétrica, já que a maior parte das mortes poderia ser evitada. “Esse dado já revela uma violência obstétrica. São causas evitáveis, como hemorragia, eclampse, que acontecem, na maior parte dos casos, por negligência”, pontua.

Mulher deve ser protagonista na hora do parto

Respeitar o poder de decisão da mulher é fundamental para um parto bem sucedido. É papel das entidades do sistema de saúde, ou pelo menos deveria ser, respeitar a vontade da gestante e os direitos básicos, como a presença de um acompanhante antes, durante e depois do trabalho de parto.

“No momento que ela tem esse protagonismo, ela consegue ter mais segurança, consegue ficar mais tranquila. A vantagem é que ela fica mais segura e isso interfere positivamente no parto, que ocorre de uma forma mais tranquila. Além disso, ela estará sendo respeitada, como pessoa e também como mulher”, explica a subcoordenadora da Rede Cegonha, que luta pela humanização do parto no Piauí, Íris Amaral.

O grande desafio é mudar o paradigma que ainda existe no sistema obstétrico do país. O direito da mãe de escolher o tipo de parto, por exemplo, ainda é desrespeitado por muitos profissionais de saúde. Isso faz com que os índices de parto normal ainda fiquem bem abaixo do recomendado pela Organização Mundial de Saúde.

Para Íris Amaral, a solução do problema está na mudança de pensamento dos gestores, profissionais de saúde e principalmente das gestantes que devem ter consciência dos seus direitos e do protagonismo que devem exercer no nascimento dos filhos. “É uma questão cultural. O nosso trabalho é de tentar convencer a sociedade que o parto humanizado traz menos riscos à saúde, da mãe e da criança”, explica.

P U B L I C I D A D E

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