Um estudo da Universidade Federal do Piauí (UFPI) aponta que a cada 10 casos de violência contra a mulher no estado do Piauí, cinco são provocadas por parceiros íntimos da vítima (Violência por Parceiro Íntimo). Além disso, o estudo contabilizou que, no ranking nacional, o Piauí ocupa o 19º lugar em número de notificações, com 53%. A pesquisa tem como base os dados do Ministério da Saúde, do período de 2011 a 2017.
"Na média nacional, a cada 10 notificações de violêcia contra a mulher no Brasil, seis foram provocadas por parceiros íntimos. No Piauí, de cada 10 notificações de violência contra a mulher, aproximadamente cinco são de violência por parceiro íntimo. Os dados variam muito, há estados em que a maioria das notificações de violência contra mulher são por parceiros íntimos, mas em outros, como o Distrito Federal, Sergipe, Alagoas e Roraima as notificação são de que a cada 10 somente três ou quatro são por parceiros íntimos", explica o professor doutor Márcio Dênis Medeiros Mascarenhas.
O professor Márcio Mascarenhas, pesquisador do Programa de Pós-Graduação em Saúde e Comunidade da UFPI, ressalta que as mulheres são violentadas por diversos agressores, não somente pelo parceiro íntimo. Ele cita como exemplo a violência comunitária, "quando alguém acredite uma mulher sem ter relação de co-habitação com ela".
NOTIFICAÇÃO NACIONAL - Violência por Parceiro Íntimo
- Do total de casos notificados de violência contra mulheres, a proporção de VPI (Violência por Parceiro Íntimo) foi de 62,4% no Brasil.
- Os estados com maiores proporções de notificação foram Espírito Santo (67,6%), Acre (67,5%), Rio Grande do Sul (67,2%), Mato Grosso do Sul (66,0%) e São Paulo (65,9%).
As menores proporções de notificação de VPI foram observadas no Distrito Federal (35,2%), Sergipe (36,4%), Alagoas (42,8%), Roraima (45,2%) e Amazonas (48,5%).
PERFIL DA VIOLÊNCIA
- Os tipos de violência mais relatados nacionalmente foram os abusos físico (86,6%), psicológico (53,1%) e sexual (4,8%). Em menor proporção, foram referidos casos de violência financeira (3,3%) e outros tipos de violência (2,5%).
O professor Márcio Mascarenhas acrescenta que a pesquisa identificou - também nacionalmente - que a maioria da violência por parceiro íntimo se deu em mulheres de 20 a 39 anos. "Essas têm prevalência de 70% de violência do que as de 15 a 19 anos".
A pesqusia ressalta que a violência foi provocada em maior proporção por parceiro do que por ex-parceiros. "O parceiro atual que é o maior agressor desse tipo de violêcia", diz o professor.
"Foi percebido também que é um fenômeno que ocorre com forte frequencia no próprio domicílio. Então, a violência por parceiro íntimo se dá no ambiente íntimo, no foro íntimo, no domicílio da vítima".
Além disso, o professor destaca o "fenômeno da repetição" nos dados estudados pela equipe. "A violência não ocorre uma única vez. As mulheres relataram que o fato ocorreu antes. A gente tratou isso como violência de repetição ou reincidente".
OUTROS DADOS
- Observou-se maior proporção de relatos de VPI durante a gestação, principalmente às custas de violência sexual, já que a proporção de violência física e psicológica efetivamente foi menor entre as gestantes
- Foi observada maior proporção de notificações de VPI entre mulheres de menor escolaridade.
- O predomínio do domicilio como o principal local de ocorrência da violência demonstra que este local é o mais perigoso para as mulheres vítimas das diferentes formas de VPI, quando deveria ser um local de acolhimento e refúgio contra a violência em geral.
- O consumo de álcool esteve associado à maior proporção de notificação de VPI geral e física, um achado concordante com outros estudos, inclusive mundialmente.
PESQUISA
- O resultado considerou a VPI contra mulheres o registro de notificação de violência cujo agressor informado foi cônjuge, ex-cônjuge, namorado ou ex-namorado, conforme preenchido no campo vínculo/grau de parentesco com a pessoa atendida da ficha de notificação.
- Do total de 1.015.631 notificações de violência contra mulheres, foram excluídos os registros de lesão autoprovocada, agressor do sexo feminino ou sem informação (embora a VPI possa ocorrer em relacionamentos homossexuais), notificações de violência contra crianças menores de 15 anos de idade. Permaneceram na análise 454.984 registros de violência contra mulheres.
Autores da pesquisa: Márcio Dênis Medeiros Mascarenhas, Gabriela Rodrigues Tomaz, Gabriel Medina Sobreira de Meneses, Malvina Thais Pacheco Rodrigues, Vinícius Oliveira de Moura Pereira e Rafael Bello Corassa.
Confira o estudo completo aqui.
Carlienne Carpaso
carliene@cidadeverde.com
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Da Redação | Valter Lima
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