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Entidades criticam censura judicial a reportagens sobre hacker que chantageou Marcela Temer

A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) pediu a anulação da decisão que proibiu a divulgação de reportagens sobre o assunto.

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 Marcela Temer (Foto: André Dusek/Estadão Conteúdo)

Entidades de classe criticaram nesta segunda-feira (13) censura imposta pela Justiça aos jornais “Folha de S. Paulo” e “O Globo”. A decisão judicial proíbe a divulgação de reportagens sobre a chantagem de um hacker condenado por exigir dinheiro da primeira dama, Marcela Temer, para não divulgar dados pessoais dela roubados através da clonagem do celular. As entidades pedem a revisão da sentença. A TV Globo também teve acesso aos documentos do processo.

Em abril de 2016, quando o caso veio à tona, a informação era de que Marcela tinha sido chantageada por um hacker que ameaçava divulgar fotos íntimas dela e da família. O processo corria sob segredo de Justiça. No entanto, a divulgação de detalhes agora mostra que a ação do hacker envolvia outro tipo de chantagem: ele ameaçava divulgar trechos de uma conversa entre ela e o irmão sobre o marqueteiro de Temer, Arlon Viana, atualmente assessor do presidente da República.

Segundo o processo, o hacker Silvonei José de Souza entrou no arquivo remoto de Marcela e acessou a nuvem, onde ficam armazenados vídeos, áudios, senhas e fotos. Assim, clonou os dados para o computador dele.

O hacker mandou uma mensagem para Marcela, cobrando R$ 300 mil para não divulgar a conversa dela com o irmão.

“Achei que esse vídeo joga o nome de vosso marido na lama. Quando você disse que ele tem um marqueteiro que faz a parte baixo nível. Pensei em ganhar algum com isso”, disse o hacker.

Marcela respondeu: “Quer negociar o que comigo? Isso é montagem. E aí, vai fazer o que? Quer me encontrar?”, disse ela.

O hacker falou: “sabe que não é montagem. Não tem cortes”.

Marcela escreveu: “Bandido, criminoso. Minha vida é limpa. E basta. Montagem e montagem. Não tenho medo de você”.

Preso por estelionato e extorsão

 A Polícia Civil de São Paulo, que era comandada na época pelo hoje ministro da Justiça licenciado Alexandre de Moraes, criou uma força-tarefa para prender o hacker. Silvonei de Jesus Souza foi preso em maio de 2016 e condenado, em outubro, a 5 anos de prisão por estelionato e extorsão.

A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) pediu a anulação da decisão que proibiu a divulgação de reportagens sobre o assunto. A entidade considera a medida absurda e prejudicial ao direito à informação e ao papel do jornalista de fiscalizar o poder público.

A Associação das Emissoras de Rádio e TV (Abert), a Associação Nacional de Editores de Revistas e a Associação Nacional de Jornais (ANJ) consideram a decisão judicial censura prévia e um cerceamento à liberdade de imprensa e também pede a revisão da sentença.

Em nota divulgada no sábado (11) sobre o conteúdo da chantagem, a assessoria da Presidência da República disse que a expressão “jogar na lama” o nome de Michel Temer está fora de contexto e que a primeira-dama não vai comentar o caso. Também lembrou que a Lei Carolina Dieckmann preserva os direitos de privacidade das pessoas que tenham o seu sigilo violado no meio digital. A TV Globo tentou ouvir o assessor Arlon Viana, mas não obteve retorno.

Na manhã desta segunda-feira (13), após anunciar que vai afastar ministros denunciados na Operação Lava Jato, o presidente Michel Temer foi questionado se houve censura às reportagens que tratavam do hacker. Ele respondeu: “Não houve isso. Você sabe que não houve”.

P U B L I C I D A D E

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